quarta-feira, setembro 14, 2016

Aceita um cafezinho da hora?

Version en français


Primeiramente, agradeço aos amigos do Facebook que colaboraram com a minha enquete a respeito dos costumes de tomar café. Foi uma conversa tão deliciosa, como se estivéssemos juntos, tomando um. Para mim, café não tem hora nem idade. E vi, pelos resultados da minha pesquisa, que é assim também para muita gente.
Uma das primeiras gafes que cometi, quando me mudei para o Canadá foi por causa do café. Uns primos do meu marido vieram nos visitar e, conversa vai, conversa vem, decidi oferecer um cafezinho às visitas. Como diria minha mãe: - Aceita um cafezinho da hora? E a casa ficava toda envolvida por aquele cheirinho mágico, não havia quem resistisse.
Quando criança, tomava café com leite, naquelas xícaras de tamanho médio – a famosa “média”, com mais leite que café. O leite pelando de quente, pois o costume era ferver antes de tomar, mesmo que fosse pasteurizado. E não podia faltar o pão com manteiga. A qualquer hora do dia ou da noite, literalmente.
Que delícia, que sentimento de aconchego, lembrar quando minha mãe nos servia, às vezes, no meio do sono da noite – talvez por achar que não nos tínhamos alimentado suficientemente durante o dia, não sei – os lábios ficavam lambuzados de manteiga, misturada com o café com leite, e ela os limpava cuidadosamente, após o banquete; o que eu nem percebia muito, já retomando o sono feliz da infância. O café nunca me atrapalhou de dormir. O organismo deve ter desenvolvido algum tipo de tolerância. Ou, quem sabe, um certo reflexo condicionado: já reparei que, se tomo café tarde da noite, sinto um sono pesado e gostoso, as pálpebras criam vontade própria para se fecharem.
Tomávamos café puro também, e não me lembro de nenhum limite de idade para saboreá-lo, por mais forte que fosse. Foi uma das poucas coisas que aprendi a fazer na cozinha, desde bem pequena. O meu café era carregado, como uma tinta. Mas devia ser gostoso, as visitas sempre diziam brincando: “Já pode casar”. Mas não foi “pra já”, muita água passou pelos coadores e pelos filtros de café antes que eu me casasse... O que me traz de volta ao Canadá e à minha gafe.
Lá fui eu preparar o café e, para calcular a quantidade de pó que deveria usar, perguntei a cada um dos presentes se iria tomar. Fiz a pergunta também à única criança do grupo – por que não? – um menino de 12 anos. Logo, logo, percebi que havia algo de errado. Ele fez uma carinha de “vergonha alheia” e lançou um olhar de indagação, quase de deboche, ao seu pai. Meu marido veio rapidamente em meu socorro, dizendo que criança não tomava café aqui no Canadá e já me perguntando se no Brasil era diferente. Com as devidas explicações, escapei de ser considerada uma delinquente a desencaminhar os jovens.
Recentemente, vi dados estatísticos interessantes, mostrando que o Brasil, apesar de ser o maior produtor e exportador mundial de café, não está entre os países de maior consumo per capita, sequer entre os 10 primeiros consumidores. O Canadá, sim, está entre os 10 países de maior consumo per capita de café. Pudera! Apesar de haver o tal limite de idade, os canadenses o consomem durante praticamente toda a parte da manhã, em repetidas doses de canecas repletas de café e algumas gotas de leite ou creme. Eles tomam o café bem ralo, mas o volume é impressionante. Se o local de trabalho não fornece o café, eles levam a sua dose cotidiana em canecas térmicas.
Lembro-me da expressão facial de decepção que meu marido fez ao ver seu café servido em uma “xicrinha”, no Brasil. Ele só entendeu melhor quando viu a cor negra do líquido e, diga-se de passagem, ficou fã de “café forte”. Nunca mais quis saber do “chafé” canadense. Costuma dizer que nosso café pode ser cortado com faca, de tão espesso – “à couper au couteau” – e que fica algum tempo sem conseguir piscar os olhos. Atualmente, quem “passa” o café aqui em casa é ele, que me superou, e muito, apesar de toda a minha experiência!

Nenhum comentário:

Postar um comentário